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[COLUNA] Como surgiu a cena Mangue?

A cena mangue, como todos sabem, tem Chico Science como seu maior ícone. Mas o que levou Chico a desenvolver as ideias do movimento? Qual era a necessidade dele manifestar um movimento de contracultura?

Na década de 90, Recife estava posicionada entre as piores cidades do mundo para se viver. Uma cidade onde a diversidade cultural é certamente a maior de suas riquezas tinha em seus índices a pior saúde, infraestrutura precária, educação ruim, alta violência, péssima qualidade de vida, grande desigualdade social e cuidados com o meio ambiente quase nulo. Observando a situação em que Recife se encontrava, Chico desenvolveu junto a uma corda de caranguejos com cérebro, um dos mais importantes movimentos de crítica ao abandono econômico-social da cidade. O mangue, biologicamente, é o ecossistema de maior diversidade de espécies, e o movimento cultural não poderia ser diferente. A riqueza do movimento não se limita à música, pois é possível notar influências do mesmo em todas as manifestações artístico-culturais, como cinema, artes plásticas, moda, dança, literatura. A importância do movimento atribuiu à Pernambuco visibilidade e tornou Recife um centro musical, permanecendo com esse título até os dias de hoje. Dentre as principais referências de Chico para desenvolver a música que hoje entendemos como Manguebeat, estão o Hip hop, o Funk Rock e a Música Eletrônica. Além, é claro, dos ritmos regionais como o Cavalo Marinho, Coco, Maracatu e Frevo. E como se não bastasse a fusão com o que há de mais regional e universal, Chico também utiliza de elementos da Música Popular Brasileira, e podemos notar a presença do samba em suas produções.

A semelhança entre o Manguebeat e o Hip hop:

O idealizador do Hip hop, Afrika Bambaataa, assim como Chico, formou uma nova cultura que surgiu no Bronx e se expandiu pelos bairros negros e latinos de Nova Iorque. E a proposta de tal movimento se assemelha ao Manguebeat, pois este não se limitava às expressões musicais, tendo como seus manifestantes não somente músicos e DJs, mas grafiteiros, e dançarinos de break, denominados de B-Boys e B-Girls. Bambaataa vivia uma realidade onde os jovens do seu bairro não tinham perspectiva, e faziam parte de gangues. As batalhas entre as gangues estavam dizimando a população desses jovens, e essa situação não levaria a lugar nenhum.

E foi observando a urgência com que essa realidade deveria ser mudada, que Bambaataa idealizou um dos maiores movimentos artístico-culturais de toda a história. Ele criou a ONG Zulu Nation em 1973, para que os jovens pudessem se afastar do envolvimento com as gangues. No RAP os MC's costumam abordar na temática de suas letras, a realidade cruel em que se encontram, e como a arte é capaz de posicioná-los em outro patamar, com histórias de superação. A partir do hip hop, nasceram o Miami Bass, que desencadeou no Freestyle, e tais gêneros vieram influenciar posteriormente também na década de 90, o Funk Carioca.

E por que não falar do Manguebeat? Sem dúvida Bambaataa foi um grande exemplo para Chico Science. Ele via Recife no Bronx, o Maracatu nas batidas eletrônicas, e com certeza a maior semelhança entre esses dois ícones, era a alquimia nos ritmos. O Mangue deixou o seu legado e as bandas Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio, Sheik Tosado, Eddie e tantas outras divulgaram suas ideias, ritmos e contestações, tornando a cena musical tão rica quanto os manguezais.

Francisco era Zumbi.

Francisco era Lampião, Josué de Castro, Zapata, Sandino, Antônio Conselheiro e todos os Panteras Negras.

Francisco era Bambaataa, James Brown, Ariano Suassuna, Luiz Gonzaga e Bezerra da Silva.

Francisco foi e continua sendo Ciência.


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