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COLUNA | O que você pensa sobre a liberdade de expressão?

  • Antônio Gabriel Machado
  • 5 de out. de 2015
  • 4 min de leitura

O conceito de ter a liberdade para exprimir toda e qualquer opinião ou pensamento em um grupo social é algo que não chega a ser relativo, mas é uma verdadeira linha tênue entre o subjetivismo e a opressão. A liberdade de expressão é algo em constante discussão no nosso dia a dia, mesmo que de forma indireta/implícita. A atual sociedade, apenas reproduzindo – e concordando – com autores e estudiosos, vive uma espécie de “auge do falso moralismo”, ainda mais com a criação do verbo “viralizar”, um advento justamente das mídias digitais e, porque não, do avanço das mídias televisivas.

Antes de tudo, é necessário deixar claro a parte em que a liberdade de expressão figura numa sociedade democrática, tendo a mesma como exemplo. Sites governamentais classificam tal conceito como fundamental para uma real democracia. Dentre tantas frases e textos, destaco duas provenientes do portal do Consulado Americano:

“A liberdade de expressão é uma forma de proteger a sociedade de opressões. (...) Os governos democráticos não controlam o conteúdo da maior parte dos discursos escritos ou verbais. Com isso, geralmente as democracias tem muitas vozes.”

tradução: este homem está protestando contra a liberdade de expressão, usando do direito da liberdade de expressão, que lhe dá a liberdade de se expressar contra a liberdade de expressão

Em uma síntese para que fique ainda mais claro, a singularidade de opinião faz com que a opressão diminua (e não suma), criando inúmeras vozes numa mesma sociedade.

É trabalho da constituição, acima de tudo, zelar pela expressão individual de cada cidadão, impedindo qualquer ramo governamental ou não de censurar tal ato. Mas aqui cabe o grande questionamento deste que é (ou deveria ser) inegavelmente um direito de todo e qualquer ser humano neste planeta: até que ponto vai o direito do outro expressar o que pensa?

Existe uma máxima que aprendemos com nossas mães desde crianças: “o meu direito acaba quando o do próximo começa”. Sim, isso é verdade. Mas concorde que por mais absurda e controversa que seja a opinião do cidadão – tanto para o senso comum como somente para você – o ato de censurá-lo derruba esta máxima citada acima, afinal de contas, nós impedimos esse alguém de exercer o seu direito. É aqui que eu te chamo para o debate.

“Mas um cara que fala algo como isso é um animal!”. Não, ele é gente. Apenas teve uma história de vida diferente da sua, e isso afeta sim a maneira de percepção de mundo. Sabemos que é difícil uma pessoa criada por uma família conservadora – por exemplo – se tornar alguém com ideais liberais. Aquilo que vem tornando este tipo de acontecimento algo cada vez mais comum, deixando o plano do “dificilmente”, é o que chamamos diariamente de “redes sociais” (ah, e para evitar questionamentos: o exemplo da família conservadora gerando um ser conservador, pode acontecer em uma família liberal gerando um ser liberal, ou uma família conservadora gerando um ser liberal, ou uma família liberal gerando um ser conservador, e etc.).

As redes sociais vêm assumindo um papel de uma das responsáveis diretas nesse número de variáveis citados acima. Um ser humano que nasce hoje terá certamente fortíssima influência desta forte descarga informacional, tecnológica e digital diária. Se isso será bom ou ruim, depende de outro número x de variáveis. O que dita o senso comum atualmente é aquilo que passa na televisão e é disseminado pelo mundo da internet, causando comumente essa bipolarização em campos religiosos, políticos, culturais, sociais e etc. Se para uns a homossexualidade é uma doença, para outros é algo completamente normal, e esses dois seres de opiniões e perspectivas diferentes se engalfinham no mundo virtual.

Não há nada pior do que saber que ainda existe discriminação racial, de gênero, social, religiosa e tantas outras em pleno século XXI, mas faço uso da minha liberdade de expressão para declarar que sou contra este tipo de coisa. Há quem seja a favor. Acho um absurdo e um retardo de pensamento, mas aquele cidadão está no direito dele. O máximo que poderíamos fazer, usando o conceito cru da Liberdade de Expressão, seria debatermos esta ideia e apresentar os argumentos que nos fazem formar nossas opiniões daquela maneira.

Outro exemplo muito claro e debatido nessa linha tênue que é o direito de se expressar é a revista francesa Charlie Hebdo. Acredito que é necessário algo ou alguém com tal posicionamento no mundo de hoje. Considero a sátira da Charlie um tanto distante do preconceito, e não a condeno. Por mais que o profeta Maomé apareça na capa beijando Jesus Cristo, isso não enfraquece a religião islâmica e muito menos a católica, isso não aumenta ou diminui a crença dos islâmicos nem dos católicos, assim considero. Outros não. O direito de protestar contra a Charlie Hebdo é extremamente válido, mas usa dos mesmos princípios de liberdade de expressão que a própria Charlie usa. A imagem de um dos protestos contra o periódico francês é um dos bons exemplos que considero.

Tanto o exemplo da Charlie Hebdo como o da discriminação, porém, saíram do campo debatido para tomar outras proporções, aí sim, fora do contexto da liberdade de expressão por ferir outros direitos humanos mais importantes. No caso da Charlie, a sua redação foi atacada por radicais islâmicos e membros da revista foram mortos numa verdadeira chacina. No caso das discriminações: ataques violentos contra homossexuais, propostas de lei que se baseiam em religiões determinadas, exclusão de grupos minoritários e etc.

A linha da liberdade de expressão é de fato tênue. A proposta deste texto reflexivo não foi defender uma linha de pensamento A ou B, buscando simplesmente debater este conceito no qual tanto ouvimos falar e que não teorizamos tanto quanto discutimos em nosso cotidiano. A sociedade moderna de fato vive um momento de “falso moralismo”, como citado no início do texto, justamente pelo fato do discurso ser valorizado ao invés dos atos.

Alguns escritores acreditam que se vivêssemos em uma sociedade com a liberdade de expressão de fato em prática, muitos dos episódios negativos que marcaram a humanidade não aconteceriam. Para ser sincero... Aliás, para que avisar que estou falando com sinceridade?!

 
 
 

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