E a brodagem, foi embora com Chico?
A contribuição e o valor cultural do movimento mangue para o cenário artístico pernambucano, e porque não dizer para a world music, é incontestável aos olhos de qualquer crítico da música e chega a ser imensurável de resumir em um simples texto redigido por um estudante de jornalismo, fã de todos aqueles caranguejos com cerébro. A construção gradativa de toda essa história está fincada na mente e no coração de todos - assim como a antena parabólica na lama - o nome de Pernambuco correu o mundo.
Quando Chico partiu eu tinha 4 anos de idade, obviamente não pude acompanhar de perto a eferversência musical da década de 90 provocada por uma ''cooperativa de idéias pop''. Esse núcleo era formado por nomes como H.D Mabuse, Fred 04, Jorge du Peixe, Chico, Dolores, e mais uma galera antenada as novidades da música internacional e nacional. Apesar da pouca idade, através de pesquisas pude ir a fundo sobre a história do Manguebit-beat-bet. Com o auxílio do Youtube, assisti muitos vídeos daquela época, pude conhecer pessoas e ouvir histórias sobre Chico e os músicos pernambucanos, e ainda fui presenteado com dois livros fantásticos - ''Do Frevo ao Manguebeat'' do brilhante jornalista José Teles, e meses depois recebendo das mãos da própria Paula Lira, autora do livro ''A Grande Serpente'' , me aprofundei em sua obra estando em sintônia com a influência do manguebit em todas as áreas de produção artística, sabendo as transformações que foram provocadas na moda, no jeito de falar, etc. Diante disso, me sinto confortável em transcorrer sobre.
Pois bem, faço todo esse resgate contextualizando a importância da cena, mas trazendo em paralelo uma preocupação. Onde está hoje em dia, o lema que foi sempre exaltado por Chico: brodagem, diversão e diversidade. Falo isso, pois acompanho há um bom tempo a Nação Zumbi e a considero a melhor banda do Brasil, simplesmente por terem músicos competentes. Para mim, a Nação é aquele time de futebol que cada jogador titular é o melhor da posição. A vibração que os caras passam nos shows não pode ser descrito com palavras, quem foi ver de perto a NZ sabe o que estou falando. Só que insistindo na comparação do esporte bretão com a música, analiso que após o desaparecimento do camisa 10, o capitão que agregava a torcida, o time, e a todos que se interessavam por suas idéias, aquela equipe unida, vitoriosa, extrovertida, perdeu o auto-estima, passando por bons momentos. Analisando atualmente a situação da banda, me parece que junto com o desaparecimento deste líder espontâneo que era Chico, a estiga e a felicidade demonstrada nesta foto acima, por exemplo, já não existe mais.
Em entrevista dia 01 de agosto de 2015, para o Jornal do Commercio, Gilmar Bola 8, cantor e percussionista, que juntou o bloco afro Lamento Negro com a Loustal (segunda banda de Chico), surgindo a partir daí a Nação Zumbi, se queixou do distanciamento e da falta de comunicação dos demais integrantes da banda com ele. Algo que reafirma haver um relacionamento estremecido.
JC - Você tem saudade daquela época com Chico?
BOLA OITO - Eu fundei a banda com Chico, demos nome. Naquela época estava se falando muito dos 300 anos de Zumbi dos Palmares e tudo que a banda iria fazer era conversado antes e chegamos a um denomidaor comum. Hoje, eu fico sabendo dos acontecimentos por último e não sou convidado para participar. Assim foi a gravação junto a Lenine e assim foi também na regravação da música de Legião Urbana.
Indagado essa semana por uma fã em sua rede social a respeito de uma possível saída da banda, Gilmar respondeu:
É fato que existia um intermediador extrovertido, um líder natural, que agregava a banda e faziao tribos diferentes compactuarem de um mesmo proposito. A idéia era levar Peixinhos, Rio Doce, o rock junto ao maracatu e o nome de Pernambuco para o mundo, e conseguiu.
Essa frieza, que ao meu ver é perceptível na banda, juntamente com declarações de insatisfação do próprio Gilmar, nos deixam preocupados até quando o teremos fazendo parte da Nação. Percebe-se este distanciamento entre os integrantes da banda, quando, por exemplo, nas entrevistas para os meios de comunicação, na maioria das vezes, apenas três integrantes falam em nome da banda. Se isso é uma recomendação de alguém, acordo contratual ou verbal, eu não sei. Prefiro ser saudosita de um tempo que não vivi, replicando o depoimento de Felix Farfan para um programa da MTV. Farfan conta que Chico sempre dizia: '' tem que ir todo mundo de bolo''.
Prefiro está enganado, mas aparentemente o já citado termo brodagem não é mais o lema dos mangueboys.