[COLUNA] Recife: continuação de seus encantos - Por Maria Lua
- Maria Lua Ribeiro
- 30 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Na última coluna nós havíamos começado um passeio especial pelas ruas do Centro do Recife, mostrando as esculturas erguidas em homenagem aos poetas. Os protagonistas foram Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Capiba, respectivamente. Continuaremos o percurso aqui e dessa vez vou trazer mais três poetas de rara expressão para a cultura pernambucana e brasileira de um modo geral.
Retomarei nosso roteiro com Mauro Mota (1911-1984). Natural de Nazaré da Mata, a terra do Maracatu, nosso jornalista, professor, ensaísta e memorialista, despertou para as atividades jornalísticas desde os anos universitários. Logo se tornou redator-chefe e diretor de um dos maiores jornais da América Latina. Sua poesia simbolista aborda a temática nordestina retratando dramas cotidianos em linguagem simples e espontânea. Sua imagem está eternizada na Praça do Sebo – local de tradicional venda de livros raros e usados - que fica na Rua da Roda, sentado, lendo jornal à sombra de uma árvore grandiosa. Um de seus poemas de destaque é ‘‘Rua estreita do Rosário da Boa Vista’’:

Rua, rua, Poeira da rua, Moleque de rua, Verdureiro, Carroça de leite, jornal de vizinho, Lata de lixo, vira-lata. Galinha e capão gordo, garajau. Caderneta de venda, açougue na esquina, Safadezas a carvão na calçada. Cara de mãe — É a sua, s... Pedrada na vidraça, Apelido de Inocêncio: — Bico Doce! — É a p. que pariu, seu f. da p. Fio, papagaio, fio, Ponteira, Pião, pião, Missa pedida, Baú de mascate, Colchetes, fitas, carretéis, anéis, Gaita de amolador de tesoura, Vassoureiro, copo, quartinha resfriadeira. Menô! Êo! Miú! Jacaiu! O gato mourisco Andando por cima Dos cacos de vidro Do muro da casa De Dona Mocinha. Horácio bêbedo chamando nome.
Os seres noturnos descendo do céu Morcego, sapoti, Lua.
Nosso próximo poeta é Carlos Pena Filho (1928-1960), jornalista e advogado, teve sua carreira precocemente encerrada, quando morreu aos 32 anos. Nosso ‘‘pintor de palavras’’, como carinhosamente era denominado por Gilberto Freyre , carrega em suas obras um forte apelo visual, atrelado à musicalidade e oralidade das mesmas. Possui um lirismo envolvente e suas imagens plásticas se destacavam pela cor, movimento e luz. A maioria dos títulos de suas obras fazia referência a retrato, nomes de cores ou quaisquer variações referentes. Também compôs algumas canções em parceria com o mestre Capiba, dentre elas está ‘‘A mesma Rosa Amarela’’, que ganhou expressividade na voz da cantora Maysa. Sua imagem foi esculpida e colocada na Praça da Independência, também conhecida como Praça do Diário, tradicional espaço comercial do Recife – daí veio o primeiro nome, Praça do Comércio, no séc. XVII - desde o tempo dos holandeses em Pernambuco.

Você tem, Quase tudo dela, O mesmo perfume, A mesma cor, A mesma rosa amarela, Só não tem o meu amor.
Mas nesses dias de carnaval, Para mim você vai ser ela, O mesmo perfume a mesma cor, A mesma rosa amarela, Mas não sei o que será, Quando chegar a lembrança dela, E de você apenas restar, A mesma rosa amarela.
Partimos do bairro de Santo Antônio, direto para o bairro do Recife, na Rua do Bom Jesus, hoje famosa pela feirinha de mesmo nome onde são comercializados artesanatos de vários locais do Estado durante os fins de semana. Na época da invasão portuguesa era chamada de Rua dos Judeus, onde estavam situados estabelecimentos comerciais judaicos e a Sinagoga Kahal Zur Israel, primeira das Américas. É nessa rua que está o simpático poeta, compositor e cronista, Antônio Maria (1921-1964). Sua estátua encontra-se em posição convidativa para uma conversa descontraída, sobre algum assunto sugestivo, como esporte, por exemplo, considerando que ele também foi comentarista desse âmbito. Aos 17 anos, ele já apresentava programas musicais em uma importante rádio da cidade. Também compôs diversos sucessos populares em parceria com nomes famosos como Dolores Duran, Elizeth Cardoso, Nora Ney e Vinícius de Moraes. ‘‘Manhã de Carnaval’’ é uma delas:

Manhã, tão bonita manhã Na vida, uma nova canção Em cada flor, o amor Em cada amor, o bem O bem do amor faz bem Ao coração Então vamos juntos cantar O azul da manhã que nasceu O dia já vem E em seu lindo olhar Também, amanheceu Canta o meu coração A alegria voltou Tão feliz na manhã Desse amor.
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